Problemas do Modelo de Pós-Graduação do Brasil

11-01-2013 13:59

 

O modelo de pós-graduação em nível de Mestrado e Doutorado do Brasil é uma cópia do modelo norte-americano, porém a realidade educacional e trabalhista deles é uma e a do Brasil é outra.

 

Em razão disso, foram gerados vários problemas como, por exemplo, o não incentivo da criação dos Cursos de Mestrado e Doutorado no período noturno, por acharem que poderia haver perda da qualidade de ensino. Porém essa é uma mentalidade atrasada, pois se todo mundo pensasse dessa forma, as Instituições-Elites de Ensino dos EUA não aplicariam cursos Online.

 

O não incentivo por parte do Governo Federal para a criação de cursos de Mestrados e Doutorados no período noturno faz com que se tenham baixos índices de Mestres e Doutores no Brasil.

 

Outro fator que contribui para esses baixos índices é os altos salários pagos pelo mercado que inibem a formação continuada. Ou seja, mercado superaquecido é responsável por tirar os pesquisadores da sala de aula. A falta de profissionais no país faz com que os salários aumentem e superem facilmente o que é pago em bolsas de mestrado e doutorado – R$ 1,2 mil e R$ 1,8 mil, respectivamente.

 

Nesse contexto, em vez de terminarem a graduação e darem continuidade aos estudos, os novos profissionais preferem ingressar no mercado de trabalho, que paga até R$ 15 mil em áreas em que a oferta de profissionais é ainda menor, como Engenharia do Petróleo. “Se o engenheiro aceita viajar para onde a empresa precisar, o salário tende a ser maior do que isso. Petróleo, por causa da descoberta do pré-sal, é uma área que precisa desesperadamente de gente capacitada”, diz Vanderli Fava de Oliveira, diretor de Comunicação da Associação Brasileira de Educação em Engenharia.

 

Mesmo nas áreas em que não há tanta carência, os salários para recém-formados também são altos e ficam entre R$ 5 mil e R$ 8 mil. Com esses valores torna-se difícil convencer o estudante a focar na pós-graduação. Embora só bolsistas sejam proibidos de trabalhar enquanto estudam, alunos e professores garantem ser muito difícil conciliar as duas atividades, pois a maioria dos cursos são oferecidos no periodo matutino e vespertino, e não noturno.

 

Pouco interesse

 

Mesmo com o aumento da oferta de mestrados e doutorados no país – crescimento de 31% em cinco anos –, a falta de interesse por continuar a formação já é percebida na graduação. A adesão a programas de iniciação científica, como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PBIC), é baixa. O motivo é o mesmo: enquanto estágios pagam cerca de R$ 1 mil, a remuneração do PBIC fica em R$ 360.

 

Para incentivar a especialização, universidades e empresas têm investido em mestrados profissionais, nos quais o aluno continua a trabalhar e relaciona a pesquisa à sua atividade, e garante que os cursos de Pós-Graduação, como os de Mestrado e Doutorado, sejam aplicados no período noturno, não impedindo assim os alunos de trabalhar.

 

Outro problema preponderante é a questão do rigor dos mestrados acadêmicos brasileiros cujas exigências são compatíveis com doutorados de outros países. Esse superdimensionamento do papel dos mestrados, muitas vezes organizados como verdadeiros pequenos doutorados, faz com que haja muita evasão nos cursos de mestrados. 

 

Para vocês terem uma ideia, olhando algumas dissertações do Mestrado em Energia da UFABC, pude obervar que existiam alunos que concluíram a mesma em 56, 54, 53 e 40 meses, e a média lá estava em 33 meses para concluir a dissertação de Mestrado. Já nos EUA, um aluno bem treinado, termina sua dissertação de Mestrado em 12 meses. Ora, o Brasil com  todo esse rigor em seus cursos de mestrado poderia ter vários Prêmios Nobel e os EUA poucos Prêmios Nobel. Porém, sabemos que a realidade não é essa, por tanto, não é uma rigidez absurda como a que temos atualmente no Brasil com os cursos de mestrado que irá fazer a diferença na geração e produção de conhecimento.

 

Observações:

 

1ª)  A bolsa de estudos que um aluno de mestrado ou doutorado recebe hoje não chega nem à metade, em valores corrigidos, dos valores pagos no ano de 1994, quando o Plano Real foi lançado. Quem fez esse cálculo foi a ASSOCIAÇÃO DOS PÓS-GRADUANDOS DA FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE COMPUTAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS - APOGEEU.

 

Descontando a inflação durante o período, as bolsas que os pós-graduandos recebiam em 1994 teriam hoje valores equivalentes a R$ 2.900,00 para o mestrado e R$ 4.400,00 para o doutorado. Com os valores atuais das bolsas da Capes e do CNPq de, respectivamente, R$ 1.350,00 e R$ 2.000,00 - temos uma diferença de cerca de 55%.

 

Em minha opinião, os valores mínimos das bolsas de Mestrado e Doutorado da Capes e do CNPq tinham que ser de R$ 3.200,00 e R$ 5.000,00, respectivamente. Isso seria possível com ajuda financeira vinda de alguns Ministérios Federais.

 

2ª)  O Brasil formou 47 mil mestres e doutores em 2009, totalizando 176 mil titulados no País. Isso corresponde a 0,07% da população brasileira.

Para alcançar as proporções dos países desenvolvidos seria necessário, no mínimo, multiplicar esse número por cinco, segundo a própria Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

 

3ª)  Incentivar e garantir os cursos de Pós-Graduação de Mestrado e Doutorado no período Noturno é por ventura garantir o acesso à educação de forma mais democrática e igualitária a todos, garantindo assim o aprimoramento intelectual e profissional do povo.